por Artemys Ichihara
19 de julho de 2016
Muito backlash, desconfiança e um trailer com mais críticas negativas que Batman vs. Superman depois, Caça-Fantasmas (Ghostbusters) estreou nos cinemas brasileiros em grande estilo. Aclamado pela crítica e pelo público, o filme é um remake/revival de uma das franquias mais bem sucedidas das décadas de 1980/1990 — em especial do primeiro filme da série, Ghostbusters (1984) — e traz como as novas caçadoras de fantasmas Melissa McCarthy (Abby Yates), Kristen Wiig (Erin Gilbert), Kate McKinnon (Jillian Holtzmann) e Leslie Jones (Patty Tolan).
A produção do filme teve um começo turbulento com relação à recepção: as críticas por terem escalado mulheres para interpretar o icônico grupo de “detetives sobrenaturais” não foram poucas e não era incomum encontrar críticas dizendo que o filme seria ruim pois “estragaria a infância” dos fãs e espectadores. Felizmente, não é isso o que encontramos no longa-metragem dirigido por Paul Feig.
A história tem início quando a personagem de Wiig, Erin, descobre que seu livro de fantasmas, escrito há anos com sua então melhor amiga, Abby, está à venda na Amazon. Temendo ter seu futuro como docente universitária arruinado, Erin vai tirar satisfações com Abby e acaba sendo recepcionada por um laboratório cheio de bugigangas tecnológicas que ela não entende e a parceira de Abby, Holtzmann. Um incidente envolvendo um fantasma e mais alguns outros incidentes depois, Abby, Erin, Patty e Holtz(mann) acabam por se juntar e formar o grupo.
Caça-Fantasmas é, além de um filme hilário com piadas que funcionam e um timing que não perde o ritmo, uma grande paródia de si mesmo. Com referências a filmes de terror clássicos — como O Exorcista (1973) –, à cultura pop da década de 1980, e à própria constituição do filme original, o longa metragem exagera em alguns estereótipos e os torna hilários, mas, ao mesmo tempo, absurdos. A homenagem feita ao material que deu origem a esta versão é feita de maneira respeitosa e, até mesmo, carinhosa (embora pareça contraditório). Cameos, referências sutis a eventos passados, semelhanças no enredo: tudo foi pensado para que a versão de 2016 não viesse para substituir ou superar, mas renovar um universo querido por mais de uma geração sem se esquecer de onde veio.
Discussões sobre o teor feminista (ou não) e suas personagens de papéis invertidos à parte, Caça-Fantasmas é, antes de qualquer coisa, uma ótima comédia. Antes de ser uma mídia que se propõe a questionar, é uma mídia que se propõe a divertir. E sem se levar muito a sério, de forma descompromissada — e com sucesso.
Outro ponto forte é a trilha sonora: que vai desde o tema original, composto e executado por Ray Parker Jr., a diversas versões, como a do Fall Out Boy e as versões orquestradas; além de outras músicas muito boas do cenário pop dos anos 1980 colocadas de maneira brilhante no filme. Os efeitos especiais cumprem o seu papel, embora o 3D só seja de fato necessário em algumas cenas do longa, e os fantasmas são assustadores — e quase reais.
Em suma, Caça-Fantasmas é um dos melhores filmes de 2016. Mais do que qualquer mérito problematizador, o maior mérito da releitura do e para o século XXI é o que qualquer filme de comédia busca quando produzido: ser um filme ridiculamente divertido. Vale o ingresso (até um pouco demais).
revisado por Pedro Henrique