por Artemys Ichihara
13 de julho de 2016
Se um dia James Bond, X-Men e Caça Fantasmas se encontrassem, qual seria sua reação primária? Provavelmente, pensar que essa bagunça não daria lá muito certo. Felizmente, não é isso o que acontece em A Torre, romance de estreia de Daniel O’Malley que mistura gêneros que vão desde a ficção cientifica ao sobrenatural, passando pelas histórias de espião e thrillers de suspense.
Tudo começa quando Myfanwy Thomas (pode ser lido tanto como “Miffany” quanto como “Muhvanwee”) se vê rodeada de corpos caídos — provavelmente mortos –, sob uma chuva torrencial e munida apenas de um montinho de cartas numeradas. Abrindo a primeira carta, logo se vê a quem se destina:
“Querida você”, saúda a remetente. E assim começam as aventuras da “nova” Myfanwy, dividindo-se entre descobrir quem apagou suas memórias e suas razões para tal ato; e aprender a lidar com sua nova vida sem chamar muita atenção. Munindo-se dos cânones de diversos gêneros da fantasia, suspense e fazendo uso de um clássico humor inglês — ainda que O’Malley seja australiano–, A Torre é, antes de uma aventura sobrenatural cheia de perigos, a história de uma mulher em busca de si mesma, tentando encontrar seu lugar em um mundo que não faz o mínimo sentido, com responsabilidades que não entende.
Diferente de vários young adults que clamam para si um gênero e classificação indicativa da qual não fazem parte, a obra traz uma jovem adulta (que ainda que esteja na casa dos trinta anos, acabou de “renascer” para uma vida que não é sua) tendo de lidar com problemas cotidianos de quem está iniciando nessa nova jornada — como um trabalho que não entende muito bem, pessoas com quem não sabe lidar, entre outros problemas que quem está entrando em sua década de vinte convive todos os dias — com aquela pitada de “detetive sobrenatural” que só o trabalho em uma seção super secreta do governo britânico cheio de pessoas com poderes bizarros pode proporcionar.
Cenas de ação bem colocadas, personagens bem construídas e um enredo gostoso de ler, fazem do romance de estreia de O’Malley uma ótima pedida para quem quer uma leitura descompromissada e curte uma pegada meio “Três Espiãs Demais” com aspectos de X-Men e muita burocracia inglesa (danm Vogons!) para temperar a relação, além de diálogos divertidos e cenas memoráveis com monstros de gosma.
A narrativa é fluida, e os plot twists pensados e bem amarrados, tornando, assim, a história bem cadenciada e construída de uma maneira que não a torna maçante para o leitor. O suspense é colocado de uma maneira que faz com que duvidemos de todas as pessoas envolvidas na organização (e até mesmo fora dela), o que possibilita uma gama enorme de saídas possíveis para as situações apresentadas durante o livro.
Como nem tudo são flores, a edição, infelizmente, parece não ter sido tao caprichada quanto a história foi bem construída. Erros de pontuação, ortografia e gramática acabam por tirar um pouco o brilho de uma história bem feita, ainda que o livro sustente tais problemas e entregue um bom enredo de maneira descompromissada e dinâmica.
revisado por Aline Machado