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O Nome da Estrela [Resenha]

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Por Aline Dias

17 de Janeiro de 2016

O Nome da Estrela poderia ser categorizado como um livro para adolescentes, mas não caiamos nessa armadilha. Se você gosta de livros de mistério, de suspense, plot twists adoidado, e de umas boas risadas, leia-o. Ele é o primeiro de uma trilogia, Sombras de Londres, já lançada no exterior, mas aqui em terras tupiniquins ainda temos apenas esse primeiro livro traduzido. Há também um “prequel” disponível em inglês, mas que é melhor lê-lo depois da trilogia.

Aurora Deveaux, Rory para os amigos e familiares mais próximos, é da Luisiana. Ela e seus pais, advogados e professores universitários, mudaram para a Inglaterra. Ela ficaria em Londres, onde estudaria numa prestigiosa escola preparatória/internato para a faculdade cujo nome é Wexford. Já seus pais ficariam em Bristol, onde seriam professores na Universidade de Bristol. Ela faz amizade com a colega de quarto, Jazza (Julianne) e Jerome, seu amigo. No dia em que Rory chega à cidade, um crime muito parecido com o primeiro crime de Jack, O Estripador ocorre. As câmeras de segurança falham e não conseguem captar o ocorrido.

Um segundo crime acontece, parecido com o segundo crime de Jack e a cidade fica em estado de alerta. Jack, O Estripador, está de volta, em sua versão moderna, antiga ou poser, ninguém sabe, não se tem ideia de quem é o criminoso, e, novamente, as câmeras não funcionam. Jerome, curioso, convence Rory que leva Jazza junto até o local do segundo crime para investigar o que está acontecendo. Daí, eles começam a criar teorias e buscam informações pela internet para descobrir a verdadeira identidade do cruel criminoso. O segundo crime, como o primeiro, ocorre bem perto de Wexford, a escola deles.

Os três, numa mistura de idiotice com tédio e vontade de ter um causo para contar futuramente sobre um momento histórico, decidem (contra as regras da escola, podendo até ser expulsos) ir até o telhado da escola no meio da noite e ver de lá de cima a movimentação das redondezas para tentar filmar o criminoso. Daí, Rory encontra o Fofo, o cão-guardião de Hagrid um homem suspeito, na hora que está tentando voltar para o seu dormitório. Mas Jazza, da janela do banheiro e praticamente em cima dela, não o vê. No dia seguinte, um corpo é encontrado diante da escola (em frente à janela do dormitório de Rory e Jazza), e Rory deve contar o que viu. Ela se torna a única testemunha do terrível caso. Um jovem policial a aborda e a faz jurar que não vai falar com a imprensa sobre o que viu, dando um cartão para ela o ligar diretamente, caso precisasse ou lembrasse de alguma coisa.

Quem ou o que seria aquele homem que só ela conseguiu ver?

E aí é que começa a ação no livro. E não pára mais.

Sinopse e introdução feitas. Agora, vamos a algumas considerações relevantes:

O prefácio introduz Londres e o primeiro crime, já iniciando com uma narrativa dinâmica, e a ambientação é feita de uma forma leve, criando um choque quando chega a parte do crime. As citações, distribuídas no decorrer do livro, dividindo-o em partes, dão o tom de cada parte e vão desde a Bíblia até Morrissey. A tradução para o português é excelente, utilizando palavras e expressões de forma adequada e mantendo a qualidade (e o bom-humor) do texto original.

A narrativa é dinâmica e bem desenvolvida em 1ª pessoa: nos dá a sensação de estarmos ouvindo/seguindo os pensamentos de Rory. A família meio maluca e a cidadezinha de origem de Rory são muito bem descritas, tanto que dá até para se sentir o bafo de calor da Luisiana no seu pescoço. Há também o contraste entre as terras pantanosas de onde Rory veio e a Londres quase outonal cinza, mas muito mais fria do que ela esperava. E a leve confusão que Rory faz com o vocabulário e expressões americanas e britânicas.

Logo no início, a escritora já demonstra ter feito uma ótima pesquisa e deu uma introdução histórica (e, brevemente, arquitetônica) sobre Londres e, mais precisamente de East End, o lado do rio Tâmisa onde o distrito de Whitechapel fica – local dos crimes de Jack, o Estripador.

O único senão que eu notei na história, em relação à pesquisa, foi na parte que os pais de Rory, em Bristol, queriam que ela fosse passar o final de semana lá e Jazza diz que não valeria a pena, pois demoraria o mesmo tempo para ir até a Cornualha também e ela não iria para casa. Não, não, não… Não demoraria o mesmo tempo, não. Dependendo do lugar na Cornualha, demoraria por volta de 4 a quase 6 horas para chegar de trem, e até Bristol, menos de 2 horas. Ok, tô sendo chata. Mas é uma coisa que quem olha o mapa do Reino Unido consegue notar (a distância), ainda mais se checar os horários de trens, ou usar o Google. Mas, comparando com o tanto de informação precisa e bem desenvolvida no livro, isso pode passar.

As personagens são pessoas normais, ou ligeiramente anormais, o que as tornam normais, se é que isso faz sentido. Rory logo se identifica com Jazza. Ela encontra em Jazza alguém que se parece com ela: alguém com uma leve sensação de inadequação. Acredito que é algo que ela sente ao fazer amizade com Jerome também. O rolo deles é meio estranho, desajeitado, mas ambos são assim, então ser estranho parece ser a norma entre eles. Eu, sendo meio estranha, me identifico :v

Outros personagens, que vão surgindo no decorrer da história, são pessoas com suas peculiaridades, como disse anteriormente, ligeiramente anormais. Charlotte, a que busca perfeição, melhores notas, é muito competitiva pois quer conseguir um lugar em Cambridge. Logo percebe-se que essa pressão toda não é só imposta por ela própria: a pressão vem de casa, dos pais. Voltando a Jerome, ele é curioso, quebrador de regras, não aceita história alguma sem uma boa explicação, adora coisas pavorosas, e quer ser jornalista. Tá no caminho certo, Jerome. Isso sem falar na família meio despirocada de Rory, cujos causos lá de Pato Branco ela conta vez ou outra para os colegas. Se a autora se estendesse mais nas descrições sobre a terra natal de Rory, da forma que ela estava fazendo, poderia passar a ser uma caricatura. Ainda bem que ela se segurou um pouco.

Mais adiante, vão surgindo outros personagens, que serão fundamentais no decorrer da história (e alguns, também, na trilogia), mas se eu falar sobre eles, será mega spoiler e eu indico, e muito, a leitura de O Nome da Estrela livre de spoilers. Vale a pena. Há vários clichês, um que me mandou diretamente para o livro “Um Gato entre os Pombos”, de Agatha Christie (que envolve um internato também) e outros que me mandaram diretamente para os filmes de ação/suspense dos anos 80/90, mas nada que estrague a leitura.

Esse livro é empolgante, muito bem escrito, a narrativa é muitas vezes engraçadíssima, e os personagens críveis, sim, parecem pessoas que você poderia encontrar na rua de baixo, daqui ou de Londres ou de Pato Branco. Devorei o livro, apesar de ter quase 400 páginas, em dois dias. O primeiro quarto (1/4) do livro é um pouco lento. Mas é só passar do terceiro crime que a leitura segue sem esforço. Quatro Canecas cheias para O Nome da Estrela, por favor, garçom.

PS: a capa é LINDA.

Revisado por: Bruna Vieira



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