O sucesso que o Conto da Aia fez dispensa comentários, principalmente após sua brilhante adaptação para a série de TV. The Handmaid’s Tale é um fenômeno pelo roteiro, atuação e produção.
A história original de mesmo nome foi escrita por Margaret Atwood em 1985, mas talvez sua trama nunca tenha se aproximado tanto da realidade quanto os tempos atuais. Não bastasse o sucesso do livro (reeditado pelo sucesso da série), e sua aguardada continuação (Os Testamentos), o livro original foi recentemente adaptado para uma graphic novel nas mãos de Renée Nault. A obra chega ao Brasil também pela Editora Rocco em uma publicação belíssima.
Para quem já está familiarizado com a história notará grandes diferenças no fio da narrativa com resumo de algumas cenas e cortes de outras, mas nada que que comprometa o cerne da história. Em um traço delicado, porém marcante, as expressões das personagens ganham uma força visceral durante a leitura.

Assim como na produção para TV o jogo de cores e luz/sombra compõem um recurso precioso para a dramaticidade e simbolismo da história, sem dúvida um trabalho primoroso da artista. Na lista das diferenças com a série está a alteração estética dos personagens que varia desde mudanças etárias (Serena e Comandante aparentam ser mais velhos) até questões raciais, visto que Moira e Luke não aparecem como negros na HQ. Essa última troca fortalece a quase invisibilidade de negros na história (já bem baixa também na produção da Hulu).

No mais, a adaptação honra sua história original e permite um contato forte com os personagens já conhecidos. Nossa passagem por Gilead toma outra dimensão durante a leitura, propiciando uma experiência muito diferente da leitura do romance ou mesmo da série. Os diferentes formatos, ousaria dizer, propiciam uma vivência transmídia com a trama, complementando-se e entremeando-se num tear complexo e vivo.