Texto por Leonardo Alves dos Santos
A rainha do pop finalmente retorna depois de um hiato de 4 anos, dessa vez trazendo seu alter ego Madame X – uma agente secreta que viaja o mundo, trocando de identidade e lutando por liberdade.
A inspiração para o novo CD veio de Portugal, país onde a cantora foi morar por conta dos filhos. Inspirada pelo clima multicultural de Lisboa, Madonna traz um álbum completamente diferente de todos os seus trabalhos anteriores e dessa vez com mais colaborações.
Madame X é uma personagem com múltiplas personalidades, política, rebelde e que parece não se importar muito com críticas, assim como a popstar, que criou um álbum diferente dos anteriores com um tom experimental, abusando do autotune para trazer vozes diferentes em cada música – fator que gerou algumas críticas negativas.
Madonna começou a divulgação do seu álbum com o single Medellín em colaboração com Maluma, surfando na onda do reggaeton e depois repetindo a dose em Bitch I´m Loca. Outra colaboração interessante foi sua inserção no funk brasileiro trazendo Anitta para uma regravação de uma música que fez sucesso em Portugal e que já está em alta por aqui, Faz Gostoso.
Além de músicas dançantes e divertidas, Madonna faz questão de trazer mais um álbum político e afirma: Madame X é uma continuação de American Life (2003). Realmente, ela não poupa esforços para deixar claro seu ponto de vista e para ser provocativa. Ela traz críticas cruas à sociedade e ao governo com grandes doses de ironia (como em Dark Ballet). Talvez a melhor música desse álbum seja God Control (e o melhor clipe até então!), faixa em que ela começa cantando como se seus dentes estivessem cerrados de raiva e depois se transforma em um dance retrô contra a violência causada por armas de fogo.
E o disco segue militando: em Batuka ela traz um som africano mergulhado em percussão e reconhece que o caminho é longo e difícil. Em Killers Who Are a Partying ela se coloca na pele de todas as minorias e ainda ensaia no português dizendo: “O mundo é selvagem, o caminho é solitário”.
Talvez o mais interessante do álbum seja ela cantar em português em diversas músicas (4 no total) com um sotaque carregado e fofo, o que deixou seus fãs de países de língua portuguesa em êxtase. Os clipes lançados até então também foram muito bem produzidos e tem uma fotografia maravilhosa. Nas colaborações com outros cantores, Madonna chega quase a atuar em segundo plano, deixando grande espaço para eles, coisa muito atípica para rainha do pop.
De modo geral, a cantora revisita vários lugares de seu universo, álbuns e fases de sua carreira, mas ainda traz algo totalmente novo e diferente. Aos 60 anos e com 6 filhos, Madonna transparece uma certa serenidade, e traduz isso no álbum com músicas positivas e dedicadas ao amor pelos filhos. Distante de uma música comercial, Madame X dividiu opiniões. Ganhou muitas críticas negativas e até declarações de rádios inglesas de que não tocariam suas músicas por ser uma artista ser velha e sem representatividade no pop atual. Para os fãs, Madame X foi recebido como uma obra de arte e um grande presente.
Mesmo com alguns tropeços musicais devido à experimentação o álbum é coerente, inteligente e com um belo enredo: muito relevante para o mundo atual. Madame X trouxe a Madonna o feito inédito de estar no topo na Billboard pela nona vez e em primeiro lugar em outras 6 paradas simultaneamente. Para uma artista com tantos anos de carreira e que viu muitos amigos e grandes celebridades morrerem precocemente, Madonna segue como a rainha que abriu muitas portas no passado, reaparece e deixa o recado em Future: “Nem todo mundo conseguirá ir para o futuro, e nem todo mundo aqui irá durar”. Vida longa para a rainha do pop.