Estreou no dia 18/julho em São Paulo, o clássico musical Pippin, do renomado compositor Stephen Schwartz. Criado em 1972, o espetáculo continua o mais atual possível, trazendo importantes questionamentos da busca de um sentido da vida, com uma jornada que tem um clímax de tirar o fôlego.
Pippin traz ao palco a fábula de um jovem herdeiro do trono do rei Carlos Magno, contada por uma trupe teatral que tem sua saga conduzida por uma mestre de cerimônias. Entre contos e relatos, acompanhamos a jornada de auto descoberta do jovem príncipe.
O musical revolucionou a Broadway na época de sua estreia, em 1972. Com uma estrutura ousada e a aposta na metalinguagem, o musical arrebatou cinco Tony Awards, além de outros prêmios no revival de 2013.
O compositor do espetáculo dispensa apresentações, com inúmeros sucessos na bagagem como Godspell, Wicked e até mesmo clássicos da Disney como Pocahontas e O Corcunda de Notre Dame.
“Este é um musical com muito mais substância e camadas do que se imagina. ‘Pippin’ é uma comédia cínica, que traz um protagonista absolutamente moderno, cheio de dúvidas e questionamentos, com um vazio existencial que jamais será preenchido. É um dos motivos pelo qual é chamado de ‘Hamlet’ dos musicais. Ele rejeita antigos clichês e quebra algumas tradições do gênero. Como se não bastasse, ele retoma essa ideia do ‘teatro dentro do teatro’ e traz um grupo teatral e a figura da mestra de cerimônias para contar a história”, conta Charles Möeller, que adquiriu os direitos do espetáculo com Claudio Botelho após o revival da peça na Broadway em 2013.
Foram necessários quase cinco anos para produzir o espetáculo, que envolve um número grande de atores e músicos em cena. Assim como na temporada carioca, Möeller & Botelho tiveram total liberdade de criação, com a diferença sendo o suporte do próprio Stephen Schwartz. O compositor disse, durante um bate papo com a imprensa, que o grande desafio foi deixar o texto mais fluído entre tantas camadas que possui.

“O musical fala muito sobre a decisão entre enfrentar um mundo real ou permanecer em um mundo de aparências ou de magia, como o que é mostrado em cima de um palco. É um tema muito atual, em um mundo de redes sociais e realidades falseadas
Charles Möeller.
Além de toda a sua arrojada dramaturgia, “Pippin” tem ainda uma das mais complexas partituras coreográficas do teatro musical contemporâneo. Dirigido e coreografado originalmente pelo ícone Bob Fosse (1927-1987), o espetáculo conta agora com o coreógrafo Alonso Barros, especialista no estilo de Fosse, responsável por criar toda uma cartilha própria que virou referência em uma série de musicais produzidos nas últimas décadas.
Möeller & Botelho convocaram para a ficha técnica novos e antigos colaboradores, como o cenógrafo Rogério Falcão (com mais de vinte projetos idealizados para a dupla), o iluminador Rogério Wiltgen (“Rocky Horror Show”), a figurinista Luciana Buarque (“Os Saltimbancos Trapalhões”) e o diretor musical Jules Vandystadt (“Beatles Num Céu de Diamantes”). Parceira da dupla desde 2003, Tina Salles assina, mais uma vez, a Coordenação Artística.
Os atores estão muito bem em cena. João Felipe Saldanha está a vontade no papel do protagonista do espetáculo. Totia Meirelles impressiona com a voracidade que a mestre de cerimônias precisa, intercalando momentos de canto e dança com maestria.
Mas a grande surpresa foi ver a Bel Lima no papel de Catarina, uma viúva com interesse amoroso de Pippin. A atriz entra como a personagem somente no segundo ato e rouba a cena com um tom cômico certeiro, além de impressionar nos números musicais.
Se no início do espetáculo a mestre de cerimônias promete um clímax que marcará a sua vida para sempre, isso não pode ser considerado propaganda enganosa. O final é um choque de realidade com o mundo em que vivemos. A reflexão fica com o vazio existencial e a quebra de expectativas. Nem tudo precisa ser tão grandioso e ambicioso para se encontrar a felicidade.
PIPPIN
Teatro FAAP
Temporada: 19 julho a 18 agosto 2019
Sextas-feiras, às 21h / Sábados, às 17h e às 21h / Domingos, às 15h e às 19h
Ingressos: de R$ 75,00 a R$ 120,00 no site do Teatro Faap
Duração: 120 minutos
Classificação indicativa: 12 anos