Se na época já foi difícil explicar e escrever sobre Sense8 e Stranger Things, imagine uma mescla desses dois com Black Mirror e talvez a gente tenha se aproximado do que foi essa Parte 2 de The OA.
Enquanto a Parte 1 – composta por 08 episódios foi imersa em total clima de suspense, assombro e mistério, os novos episódios aposta de forma mais incisiva na ação e no ritmo acelerado quase integralmente. O primeiro episódio pode causar um bom estranhamento nos primeiros 30 minutos já que nem OA/Prairie nem seus companheiros aparecem. Em seu lugar somos apresentados a Karim, um detetive particular que é contratado por uma senhora Vietnamita para procurar sua neta Michelle, desaparecida há dois dias depois de transferir uma boa quantia em dinheiro.
Com o jeito particular e envolvente de conduzir o telespectador a Parte 2 é cativante do início ao fim e principalmente neste início é comum ficar obcecado em descobrir como isso tudo irá se juntar ao arco inicial da série.
Logo após essa confusa e (até então inexplicável) epígrafe, finalmente encontramos com OA. Começamos com a descoberta que o ballet com os 5 movimentos funcionou… PAUSA! Preciso que você reviva esse momento comigo, que cena, meus amigos. QUE CENA! Refresque sua memória abaixo. Volto logo depois.
BE-LE-ZA! Agora: enxugue suas lágrimas e simbora entender essa loucura! Tá: Prairie “morre” porém apenas naquela dimensão. Acontece que todo o treino resultou no que nossa protagonista queria: saltar para outra dimensão onde pudesse se encontrar com seu amor Homer.
Tudo fica ainda mais confuso quando descobrimos que “o salto” para outra dimensão é, na verdade, você “ocupar” o seu outro corpo no outro universo. CALMA! Vamo lá! Os roteiristas Zal Batmanglij e Brit Marling trabalharam com a ideia de Multiverso. Assim, é como se existissem múltiplas OAs por aí… seguindo suas vidas em paralelo, envelhecendo concomitantemente umas com as outras basicamente como se dividissem “o mesmo TEMPO”, mas não o mesmo ESPAÇO. O que os cincos movimentos permitem então é que A CONSCIÊNCIA DA PESSOA viaje para esse outro corpo.
Acontece que, ao fazer isso é possível ocupar a consciência com as experiências da dimensão original e compartilhar as experiências com seu outro “eu” do novo lugar. É o que acontece quando a OA parou “no corpo da Prairie” (season 1) o mesmo quando agora na season 2 ela ocupa o corpo de Nina Azarova, uma atriz russa muito rica e reconhecida por grandes performances.
O que OA descobre é que há um lugar onde é possível vislumbrar essas linhas do tempo/dimensões e, mais ainda, que é possível viajar para uma na qual já se tenha morrido. Sua conexão com Homer e Dr. HAP, ela também descobre, trata-se de um ECO: eventos, ou fatos que afetam outras dimensões e isso afeta a realidade de todas elas.
Os nuances que acompanhamos para entender isso tudo percorre a temporada inteira. Enquanto OA/Nina se ambiente no novo corpo e busca entender essa sua outra história, temos uma série muito mais próxima da ciência, lembrando muito de FRINGE (aliás, saudades, Fringe! Série, fantástica, fica a dica!), em contraponto ao misticismo que prevaleceu mais forte na primeira parte.
É nessa jornada que as buscas e as histórias de Karim e Nina se cruzam e eles passam a ser a dupla protagonista da temporada. O foco da história nessa nova dimensão ofusca profundamente o grupo composto por Steve, BBA, Buck, Jesse e French que são praticamente esquecidos sem a grande guru OA para guia-los a um propósito.

Esse jogo muda profundamente no fim da temporada quando o grupo ressurge com uma grande importância repentina e consideravelmente forçado. De forma geral, aliás, não temos grandes evoluções de personagens nessa season. A exceção ficaria, talvez com o novo Homer que idolatra as pesquisas de HAP, usa barba e leva uma vida bem diferente da outra dimensão.
Com as cartas na mesa, Nina buscar encontrar seu Homer ao mesmo tempo que busca expor a verdade sobre HAP que nessa dimensão é um respeitável médico psiquiatra, que mantem prisioneiros as versões de Renata e Rachel e Scott.
Honestamente, gostei muito dessa nova fase da série. Ainda com o esforço brilhante de amarrar toda a narrativa e elementos que são apresentados, The OA consegue dar um salto em direção à ficção sci-fi com seu jeito inovador e misterioso de contar histórias. Por outro lado, enquanto a primeira temporada foi centralizada em dois núcleos fixos (prisioneiros de HAP e os amigos de OA), a segunda explora múltiplos lugares, cenários e pessoa e se preocupa pouco em desenvolvê-los na trama.
Da mesma forma, enquanto na parte 1 a maior parte dos mistérios foi esclarecido, a parte 2 mantém muitas pontas soltas para uma nova temporada, inclusive sobre o próprio propósito de OA, HAP e Homer no plano multi-existencial. Sem falar de novos personagens que não tiveram um fim adequado à sua importância da temporada (Karim dentre eles).
Ao que parece, a Parte 2 buscou concretizar um pouco a mitologia e o ‘sobrenatural’ presente na série. Nesse movimento de aproximação com a ciência, a série conquista e reafirma novos fãs enquanto cria possibilidades de explorar o multiverso de formas ainda desconhecidas por OA e nossos amigos.
Seguimos na expectativa de renovação pela Netflix!