Quando escrevi esse texto estava animado e com a cabeça fervilhando imaginando o que estaria por vir na nova temporada de The Good Place. O que encontrei ao longo da terceira temporada, no entanto foi decepção atrás de frustração e incompreensão para onde a série rumou.
Muitos que acompanham a série vão concordar comigo: a primeira temporada foi SENSACIONAL. A partir de um contexto simples, dos personagens caricatos e também com o humor que conduziu a narrativa, foi de prender a bunda no sofá do início ao fim. O que temos agora, no entanto – depois de uma segunda temporada já frustrante – é mais chateação. Já explico o porquê.
Embora classificada e tida como série de humor, The Good Place sempre trouxe dilemas morais e éticos em seu roteiro, nos diálogos e condução da própria trama. Enquanto na season 1 esses dilemas foram abordados transvestidos de humor e nas características dos protagonistas, a segunda e, mais do que nunca, a season 3 parece abrir mão do humor para levar à fundo as discussões filosóficas que permeavam o seriado.
O problema, meu amigo, é que a série não sustenta esse nível de discussão. Em detrimento às cenas engraçadas e frases sem sentido entre Eleanor Shellstrop (Kristen Bell), Chidi Anagonye (Willian Jackson),
Tahani Al-Jamil (Jameela Jamil) e Jianyu (Manny Jacinto) a terceira temporada parece conduzir para uma série filosófica da BBC sobre o livre-arbítrio, pós-morte e moral. Como já dito: a série não sustenta. E veja, não digo que é impossível juntar humor e filosofia ou fazer discussões éticas de um jeito engraçado (The Simpsons, inclusive tá ai pra provar isso!).
A questão aqui é que, tanto o roteiro quanto os personagens construídos não conseguem dar o tom necessário para fazer isso. O resultado é, senão outro, um completo descompasso entre a série engraçada e divertida que costumávamos assistir e um lero lero sem pé-nem-cabeça conduzido de uma forma rasa e com humor bem forçado. O riso, quando há, é muito mais nostálgico a partir da Janet (maravilhosa, sem mais), do que realmente cenas bem construídas e diálogos bem articulados entre as cutucadas morais e o desleixo das personagens.
Ainda restam alguns episódios da 3 temporada e a temporada 4 já foi confirmada. Resta saber se os produtores vão conseguir a criatividade necessária para reinventar a série sem perder aquilo que ela construiu de melhor na temporada inicial ou se vão continuar se entregando a fazer críticas à humanidade e nossa conduta moral. Passível de julgamento todos estamos e sempre estaremos, as produções da Netlfix também.