Monstress: Despertar é um daqueles livros que surgem como uma grata surpresa quando você está a procura de algo novo para ler. Uma história tão envolvente e encantada por magias arcânicas, mas, ao mesmo tempo, tão realista em suas metáforas do mundo moderno, Monstress é uma obra que merece ser lida e relida com cuidado e atenção aos detalhes, pois são muitos. Com roteiro de Marjorie Liu e ilustrações de Sana Takeda, Monstress: Despertar é uma HQ vencedora do prêmio Hugo 2017, na categoria melhor história gráfica e recebeu diversos elogios mundo afora, entre os quais, destaca-se o do escritor e igualmente premiado Neil Gaiman.
O livro foi lançado aqui no brasil pela Pixel Comics numa edição em capa-dura que é uma obra de arte à parte e que só acrescenta mais à beleza que a história carrega em si. O livro conta com as edições 1 a 6 de Monstress e narra as desventuras de Maika Halwolf, uma adolescente que, tomando as palavras do livro, “sobrevive à guerra cataclísmica entre humanos e seus inimigos odiosos, os Arcânicos”. A HQ de Marjorie Liu e Sana Takeda tem uma carga emocional bastante densa e isso se dá, em grande parte, por todos os conflitos abordados ao longo da história. É uma narrativa de guerra, mas também é uma narrativa sobre o medo, sobre os monstros que habitam dentro de nós, sobre desigualdade social e a eterna luta de classes, é uma história que fala sobre preconceito, sobre a forma como olhamos o outro e tudo aquilo que foge do padrão normativo da sociedade. Não à toa, essa história foi premiada com aquele que é considerado o oscar da literatura mundial.
Monstress: Despertar é uma história que surge num momento muito oportuno tanto para o mundo em geral, como para o Brasil, pois, como disse antes, em todo o tempo, a história traça diversos paralelos com a realidade atual através de suas metáforas da vida moderna. Marjorie Liu e Sana Takeda fizeram de Monstress a perfeita obra literária em que não dá para se definir ao certo se é a vida que imita a arte ou o contrário.
Mas, vamos à história. Em Monstress: Despertar, temos como protagonista, Maika Halfwolf, sobrevivente de um conflito secular entre os humanos e os arcânicos. Nesse universo particular entremeado por diversos aspectos da cultura steampunk, Maika começa sua trajetória sendo vendida como escrava para as cumaea, uma espécie de seita religiosa que usa o sangue dos descendentes arcânicos – como Maika – para desenvolver um líquido místico que lhes dá diversos poderes e longevidade. No momento em que a história se inicia no livro, humanos e arcânicos vivem sob os limites sensíveis de um tratado de paz que está prestes a ser destruído. Dentro desse cenário, arcânicos são vendidos aos humanos como escravos, muito provavelmente por terem perdido a guerra anterior – da qual Maika conseguiu escapar viva, mas não ilesa – e isso serve de basa para sugerir a formação de grupos rebeldes pró-arcânicos. Mas, isso ainda é especulação minha, vocês precisam ler a história.
Voltando, Maika, como escrava das cumaea, dá início a uma reviravolta que desestabiliza toda a falsa tranquilidade que reinava até então, o que dá início a uma quebra no tratado de paz. Daqui para frente, não posso falar muito sem dar grandes spoilers.
Apesar de ser um mundo fictício, ele tem muitas semelhanças com nosso mundo real, e isso faz de Monstress, uma história com muita identificação. Maika Halfwolf é, por sua vez, uma protagonista ímpar porque ela não parece grandes coisas no início, mas conforme sua história se desenvolve, percebe-se que ela, na verdade, é um mistério escondido sob diversas camadas e do qual nem ela mesmo sabe muita coisa. Nesse ponto, ela me lembra muito o protagonista de A Mão Esquerda de Deus, do escritor Paul Hoffman, e sobre o qual muito pouco se sabe no início, mas conforme sua jornada avança, percebe-se que ele é bem mais do que só o “herói” da história. No caso de Maika, virtude e pecado parecem marcar o conflito que irá determinar seu papel na história de seu mundo. Portadora por acidente de um poder secular que ela rejeita, ela surge como a chave para ser a salvação ou a decadência de todos os povos do mundo. Qual caminho ela irá seguir, só saberemos nas próximas edições.
Monstress: Despertar é uma história para se guardar na memória. As ilustrações de Sana Takeda são de uma beleza incrível, encantadoras e muito expressivas. E Marjorie Liu soube aproveitar muito bem isso para criar uma história muito bem desenvolvida bem amarrada – ainda que não ao ponto de matar todos os mistérios. As personagens que são apresentadas são de uma satisfação à parte. O gato Ren e a raposinha Kippa são meus personagens preferidos e para os quais teço muitas preçes para que eles não tenham um destino a la Game of Thrones. Enfim, é uma leitura que indico a todos com poucas restrições porque, afinal, Monstress: Despertar é uma história um tanto adulta no quesito morte explícita. Fora isso, aproveitem, pois é uma história fantástica.
Boa leitura!