Neste ano, o evento resolveu dar um destaque jamais visto na história deste país (quer dizer, do próprio evento) para uma das “””atrações””” (muitas aspas pois tenho minhas próprias opiniões sobre o assunto e elas não são nem um pouco amigáveis) que mais crescem em eventos aqui no Brasil (e não é de hoje): sim, coleguinhas, estou falando deste hobby polêmico, que transforma as pessoas em criaturas mágicas e povoa os delírios de vilãs de folhetins do horário nobre: o cosplay.
Desde a estrutura dada para que os cosplayers se preparassem, os prêmios dos concursos e juízes convidados, até a ingressos grátis, a BGS desse ano investiu um pouco mais do que atenção para que cosplayers participassem do evento e, talvez, deixassem os corredores dos pavilhões do Expo Center Norte um pouco mais coloridos.
A questão é: como isso funcionou para os cosplayers?
Falando um pouco da minha experiência no evento, posso dizer que a estrutura estava muito melhor do que na maioria dos eventos, entretanto ainda assim não era perfeita — e, como sempre, pode ser melhorada. A BGS, por tradição, não é um evento pra se usar cosplay: é lotada, você tem muitas coisas pra fazer que exigem mobilidade (principalmente correr atrás de jogos pra testar e pegar filas enormes), e, sendo bem sincera, tirar fotos de cosplayer é a prioridade número 354 da maior parte do público presente no evento.
Inclusive, na edição do ano passado, uma das coisas que mais me chamou a atenção no evento foi a falta de cosplayers, situação que as ações da organização — em parceria com a rede Kinoplex de cinemas — ajudaram a diminuir bastante. O evento tinha, pelo menos, um terço a mais do número de cosplayers em comparação a 2016 — e muitos deles ganharam seu ingresso em uma ação inédita para a feira.
Além dos ingressos grátis, também havia um camarim e um vestiário para que os cosplayers se vestissem com calma e se preparassem para o evento. E aqui começam os problemas da organização:
Por que raios só tinha um vestiário feminino? Estar ao lado do banheiro masculino não me parece desculpa suficiente para não colocar um vestiário para os homens — ou até mesmo manter o vestiário como misto, já que quase todo mundo estava usando o vestiário de forma individual. Embora seja um capricho — eu sei –, ter um “Cosplay Help” (seção onde deixam agulha, linha, cola quente, colas multiuso, paleta de maquiagens neutras etc) faria uma diferença imensa, sendo, inclusive, uma das sugestões de alguns cosplayers na fila do concurso. O Cosplay Help, por mais simples que seja, sempre é um diferencial e, sinceramente, nem é algo tão caro de se fazer. Além disso, o vestiário era pequeno para o fluxo de cosplayers que precisavam dele, assim como o guarda-volumes: chegar depois das 14h, durante o fim de semana, garantia a certeza de que andaríamos com nossas malas pelo resto do dia…
E falando em concurso…
… de quem foi a genial ideia de colocar os juízes no palco, pelo amor de Solomon?
Ficar de costas pros juízes não é educado, isso todo mundo sabe. Ficar de costas pro público, igualmente. E no caso do desfile — e das apresentações — você tinha de fazer uma escolha: priorizar os juízes ou priorizar o público.
Não deveríamos priorizar ninguém, né.
Além disso, existia um telão GIGANTE no evento, que foi sub-utilizado e no fim não serviu pra nada, nem pra mostrar as apresentações rolando no palco, nem pros cosplayers interagirem em suas performances. Fica a dica pro próximo ano…
Embora eu entenda que todos os presentes estavam ansiosos para ver as celebridades nacionais internacionais que julgaram os concursos — além das cosplayers convidadas Nadia Sonika, Shermie e Thaís Yuki, também dividiram a mesa de juízes o criador da franquia Metal Gear, Hideo Kojima; Ed Boon, fundador da NetherRealm e principal responsável pela franquia Mortal Kombat; e o criador do Atari,Nolan Bushnell, –, colocar a mesa de juízes no palco, ATRÁS da área reservada para os cosplayers, foi uma decisão não muito inteligente da organização. Sim, os cosplayers ficaram cara a cara com pessoas incríveis e sim, o público viu claramente os juízes famosos, mas… O quanto isso não atrapalhou a performance dos cosplayers no palco, por conta do espaço, e a avaliação dos juízes, por não terem a visão intencionada pelo cosplayer na apresentação? Fica a reflexão.
Uma coisa que fez muita falta na BGS foi pelo a existência de pelo menos um estúdio dedicado a fazer fotos dos cosplayers, ainda que pagas. Obviamente haviam fotógrafos espalhados pelo evento, fazendo cobertura para outros sites ou contratados pela própria BGS, mas a falta de estúdio acabou deixando um vazio. Quem sabe na próxima edição… (Alô Kinoplex, beijooo!). Não, não estou contando aquele chroma-key com cenas de filme um estúdio.
Agora, tocando num assunto mais polêmico, vamos falar do público. De modo geral, os BGSers (que) estavam bem comportados, respeitosos e, até o momento, não tivemos nenhum incidente bizarro envolvendo assédio, lambidas ou jornalistas intrometidos filmando pessoas nuas em camarins — embora eu tenha sim escutado comentários esdrúxulos de crianças de 12 anos que se acham no direito de falar do físico de cosplayers como se fôssemos coisas. Entretanto, foi um pouco decepcionante (e não só pra mim, posso garantir) ver que cosplays de jogos mais antigos, ou desconhecidos, não eram reconhecidos e acabavam fazendo parte da paisagem. Obviamente, ninguém tem obrigação de conhecer todos os jogos, mas se tratando de uma Feira de Games seria interessante que o pessoal conhecesse um pouco mais… ou não?
De toda forma, thumbs up para a galerinha da BGS, que soube pedir fotos para os cosplayers, não tentaram agarrar ninguém e não pediram meu telefone, nem whatsapp.
Outro ponto a ser lembrado no evento foi a diversidade de cosplays vistos na feira. Embora houvesse uma grande maioria de cosplayers de League of Legends (eu fui uma delas, inclusive) e Overwatch, muitos outros jogos foram homenageados — em especial a franquia Metal Gear, devido à presença de Kojima no evento –, com destaque para Pokémon, Undertale, Kingdom Hearts e NiER: Automata. A feira também contou com um grande encontro de cosplayers de Final Fantasy, no sábado (14/10/2017), como um evento comemorativo dos trinta anos da franquia. Ainda tivemos muitos cosplays de HQs e mangás, e de jogos baseados em HQs e mangás (como DragonBall Xenoverse e Injustice).
Em suma, usar cosplay na BGS basicamente nos traz aquela experiência clichê de todo evento que tenta investir em cosplayers enquanto atração: foi legal, mas pode melhorar — e muito. Tanto no quesito espaço e suporte, quanto no quesito atrações: não seria legal, por exemplo, trazer cosplayers internacionais como YaYa Han, Jessica Nigri ou até mesmo a Reika? Além de preencher tempo de palco — palco esse que ficou vazio na maior parte dos dias do evento –, isso acabaria trazendo mais público pro estande, interessados em conhecer as coscelebridades. Talvez, no futuro, uma cosplayer alley seria sonhar demais? Ou até mesmo mais concursos, com prêmios menores ou diferentes… Enfim, ficam as sugestões.
De todo o modo, o clima na BGS, para se usar cosplay, foi agradável. Obviamente, não foi perfeito, mas de longe melhor do que em muitos outros eventos — a começar pelo ambiente climatizado, sem lama e com banheiros por todos os lados. Fico na esperança — e no aguardo — de que, na próxima edição, mais surpresas agradáveis estejam reservadas pra um público que tanto oferece aos eventos, e que quase nunca tem recompensas decentes.