Na primeira noite da 41ª Mostra Internacional de Cinema São Paulo tivemos a oportunidade de conferir a exibição do documentário da cineasta Heloísa Passos a convite da Trombone Comunica. “Construindo Pontes” traz o retrato do conflito de gerações em meio a divergências políticas entre pai e filha.
O pai de Heloísa, Álvaro Passos, teve seu melhor momento profissional durante a ditadura militar. A expansão na construção de obras estruturais (como ferrovias e estradas) fez com que o engenheiro tivesse grandes oportunidades profissionais. Em diversos momentos do filme ele ressalta a lembrança do período como “o mais produtivo e ordenado do país”, com um plano de governo e crescimento.
Já Heloísa, questiona este momento que o país viveu, com muita repressão e autoritarismo. A cineasta ataca os argumentos do pai, dizendo que foram momentos de torturas e mortes de muitos que tentavam de alguma forma se expressar e confrontar o regime militar.
Os diferentes pontos de vista são apresentados a partir da construção da hidrelétrica de Itaipu, que com a explosão fez mudar o curso do rio e destruir uma das paisagens que ela guarda com tanta lembrança e que agora é um terreno alagado. O que ele chama de período de revolução, ela chama de ditadura. Pra ele foi impeachment da “moça”, pra ela foi golpe contra a presidenta.
A relação conturbada com seu pai é mostrada em todos os momentos, desde cenas da história do nosso país até os momentos políticos atuais. Imagens da infância da cineasta se misturam com fotos de confrontos na ditadura, em uma belíssima fotografia em todos os momentos.
Apesar de opiniões tão diferentes que geram debates e conflitos, são justamente estes momentos que aproximam ainda mais o diálogo entre pai e filha. Nenhum dá o braço a torcer, mas a relação de carinho e argumentação trazem a tona um momento onde falar sobre política e ter a própria opinião é tão arduamente criticada.
Em uma belíssima sequencia de viagem entre pai e filha, eles vão até o que era uma paisagem do rio, mas que virou o vazio alagado por conta de Itaipu. Esperando alguma reação do pai, ela se decepciona pois pra ele é algo bonito, pra ela uma tristeza. Era pra ser o final do documentário, ressalta a cineasta.
Mesmo com a distancia entre eles, o que se percebe no final é a conexão que surge ao embarcarem juntos na criação deste projeto. Ao por do sol, Heloísa se depara com o trem passando em uma das ferrovias que o pai ajudou a construir e pela primeira vez no longa ambos sorriem e se aproximam, em uma sequência digna de encerramento.