Por Guilherme Souza
14 de Junho de 2015
Em 1993, o cinema viu a mudança chegar com o rugido dos dinossauros. Jurassic Park, dirigido por Steven Spielberg, marcou muita gente. Seja pela trilha sonora, pelos velociraptors, pelo T-Rex, ou por Alan Grant, o filme ficou na memória coletiva, se tornou referência e uma lembrança feliz, tanto para adolescentes e adultos, quanto para as crianças.
Alguns anos se passaram, novos filmes foram feitos, e nada conseguiu chegar ao patamar da estréia da franquia. O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997) e Jurassic Park 3 (2001) não trouxeram inovação e foram logo esquecidos pelo público. E desde então a franquia entrou em um hiato, esperando sua nova chance de brilhar.
E então temos Jurassic World. Um reinício para a saga, com personagens novos, mas a mesma proposta do primeiro filme (inclusive sendo uma “sequência” dele). A comparação é até mesmo inevitável, visto que as ideias são muito parecidas. Se em 1993 nós tínhamos um parque sendo testado, aqui nós o temos funcionando a um bom tempo, com a equipe científica já tendo um conhecimento avançado do que estão fazendo, e aí entra o perigo. Assim como Iam Malcolm já dizia que estávamos brincando de deus antes, aqui fica ainda mais claro, com a adição de um novo dinossauro, um híbrido, criado geneticamente para ser “o maior, mais feroz e mais legal dinossauro já visto”. A partir daí toda a confusão acontece. Ao invés dos netos de John Hammond, entram os sobrinhos (tão inúteis quanto todas as crianças dos filmes anteriores) de Claire (Bryce Dallas Howard), uma das chefes do parque, e Owen (Chris Pratt), o novo herói.
Há algumas mudanças bem-vindas na dupla principal (Claire e Owen) em relação ao que já havíamos visto. A primeira tem um espaço maior em relação às outras personagens femininas da franquia, protagonizando momentos interessantes e tomando decisões importantes na trama, e o segundo é uma mistura de Indiana Jones com Alan Grant, uma escolha para deixar o personagem mais perto da ação. E, embora ambos sofram da falta de profundidade característica da franquia, parecem bons na tela, tanto durante a ação quanto a comédia. De resto, é um desfile de personagens plenamente inúteis, com apenas um ou outro tendo possibilidades de aparecer no futuro.
Com tal base, o filme consegue atualizar bem a franquia para os tempos atuais, e sem esquecer seu passado. Os fãs do primeiro filme não foram esquecidos, e as homenagens tomam a tela a todo momento. Tanto pela trilha sonora, fortemente presente durante o filme todo, quanto por detalhes relacionados ao antigo parque (uma camiseta aqui, uma faixa ali, um jipe bem conhecido…). Até mesmo os dinossauros foram lembrados, como a T-Rex, a mesma do primeiro longa, entre outros dinossauros que ativarão as lembranças do espectador.
Contudo, há diversos momentos em que as semelhanças com as antigas tramas é tanta que chega a enjoar, a tornar tudo muito mais previsível do que deveria. A subtrama onde um funcionário resolve usar os dinossauros para lucro próprio já é velha, e mesmo que tenha uma roupagem levemente diferente aqui, ainda é repetitiva. A franquia precisa achar um caminho diferente a partir de agora, para não acabar caindo em mesmices como a saga Transformers, por exemplo.
Tirando isso, o filme funciona muito bem para o que propõe, inclusive com ótimas evoluções na maneira com que trabalha seus dinossauros. Os velociraptors, sempre protagonistas, aqui funcionam muito bem, e o “vilão” da jogada, o dinossauro modificado, é muito bem trabalhado, inclusive quando é preciso mostrar sua inteligência, com ótimos momentos onde é possível ver que ele planeja suas ações, e sem parecer forçado. Além disso, há um divertido momento onde o filme brinca com o visual de seus animais (os entusiastas de paleontologia reclamaram bastante dos bichos manterem seu visual reptiliano, mesmo após as descobertas sobre sua aparência penosa).
Jurassic World é, acima de tudo, uma grande homenagem ao primeiro filme da franquia. Não há dúvidas de que sua intenção foi atingir os fãs, focado em reacender uma paixão, para então seguir novos rumos. O filme pode não ser tão original quanto queríamos, e ter um roteiro bem simples, mas abre portas para um ótimo futuro, e não há dúvidas de que deixará muitas pessoas animadas em várias cenas, cumprindo seu objetivo. E que venham mais dinossauros para nós.