Por Guilherme Souza
A distopia tem se mostrado cada vez mais presente nos romances destinados a “jovens adultos” nos últimos anos. A mistura de conflitos de jovens com um futuro distópico fez muito sucesso, vide Jogos Vorazes, é nesse meio que encontramos Divergente.
A primeira adaptação da série de 3 livros, escritos por Veronica Roth nos entrega um futuro onde guerras assolaram a sociedade, e desde então as pessoas reconstroem o que podem e mantém a paz se dividindo em 5 facções, e a partir disso temos a trama de Beatrice Prior.
A liberdade em cheque
O discurso do filme não difere muito do discurso visto em outro filme distópico jovem, Jogos Vorazes. Percebemos a luta da protagonista contra um sistema que vai se mostrando corrupto conforme o tempo. A personagem se encontra numa posição que não queria estar inicialmente, e tem que lutar pela sobrevivência e pela liberdade.
Liberdade esta que é ponto central da trama. As pessoas são divididas em suas facções e perdem a liberdade de escolha, perdem a liberdade de pensar e ser diferentes, e não é isso que todos querem hoje em dia? Liberdade de serem quem elas querem?
Contudo, o filme perde um pouco de seu potencial quando não se liberta de si e do comum. O romance inserido na história se mostra potencialmente distrativo. A construção da personagem principal é interessante e a mostra ficando forte e destemida, mas a possibilidade de isso ser eclipsada pela sua relação com o personagem Quatro é forte. Assim a mensagem perde potência frente ao final romântico que a personagem pode ou não ter. A necessidade de atender públicos maiores é mais forte do que a mensagem de que é possível ser diferente e que não há erro nisso.
Outra falha foi estruturar o filme de forma que momentos perdessem a devida importância. Vemos a personagem entrando em várias situações de superação e desafio ao longo do filme, mas os últimos desafios e superações se mostram superficiais e levianos, não recebendo muita atenção ou sequer gerando consequências na personagem. Na sua luta para se tornar livre do lema “facção antes do sangue” o filme acaba levando a personagem para longe dos dois pontos, além de resoluções simplistas em determinados momentos e desapego total com personagens e suas mortes.
O visual distópico e o som
A fotografia do filme é interessante, e a maneira como modelaram a cidade em reconstrução merecem destaque. A cerca e os campos, todo o visual do filme tem um ponto positivo. Contudo, a câmera nos mostra apenas isso: cenários interessantes. O trabalho de câmera não tem um direcionamento que auxilie na mensagem passada pelo filme. Momentos de tensão, medo e excitação estão presentes durante toda a trama, mas a câmera muitas vezes estática dissolve parte do que deveríamos sentir durante estas cenas, que então devem depender apenas da atuação dos atores, que salvam em alguns momentos.
Outro ponto irregular do filme é o som, que apesar de bom, não tem um direcionamento. A trilha favorece vários momentos do filme, mas em outros parece não existir ou é empregada de mal jeito.
Divergente começou mediano. O filme não se arriscou muito, e nos entregou uma trama rasa em alguns pontos. Contudo, o filme tem seus pontos positivos, além de passar mensagens interessantes para quem prestar a devida atenção a trama. Alguns poucos personagens interessantes e o bom leque de atores que temos no filme valem a pena e devem crescer nas sequências. Resta-nos torcer para que a trama também cresça e os produtores não cometam os mesmos erros.