Por Guilherme Souza
Estamos em Texas, o ano é 1985. A AIDS é considerada uma doença praticamente homossexual e a homofobia no estado é extremamente forte.
Esse é o início de Clube de Compra Dallas. O filme nos conta a história de Ron Woodroof, um eletricista e cowboy diagnosticado com AIDS e uma expectativa de vida de apenas 30 dias.
O roteiro do filme é extremamente linear e não apresenta nenhuma surpresa, e um dos seus pontos positivos é isso. Ao se manter numa linha, ele consegue trabalhar bem a história da doença nos Estados Unidos. Ron contrai a doença numa época que não há tratamento minimamente eficaz, apenas uma droga que o governo está testando e só piora a situação. Então ele resolve pesquisar e partir para tratamentos alternativos, gerando o embrião dos famosos coquetéis que são dados para os pacientes, e que permitem eles terem uma vida razoável mesmo com a doença. É interessante ver a luta do homem contra a FDA (Food and Drug Administration) para que consiga utilizar e comercializar essas drogas, é um cenário onde as grandes farmácias controlam o mercado e ditam o caminho conforme o dinheiro manda. Daí que ele cria o clube de compras do título, onde as pessoas pagam uma mensalidade e ele disponibiliza todos os medicamentos que eles precisam. O único ponto negativo neste roteiro é que não houve um aproveitamento tão grande da homofobia. Ron é considerado um homossexual pelos ex-colegas, e, enquanto doente, acaba conhecendo Rayon, um transgênero que, de início, sofre preconceito até mesmo de Ron. A relação evolui e podemos ver a mudança na mentalidade do personagem após adquirir a doença e conhecer melhor essa parcela da população, mas poderia ser melhor aprofundada. Mudança esta que é essencial à trama. No começo do filme é impossível se sensibilizar com Ron, mas conforme o filme se passa, ele se torna cada vez mais humano, e o final do filme fecha o ciclo do personagem de uma forma em que se torna impossível não se sensibilizar com ele.
O destaque do filme está mesmo nas interpretações. Matthew McConaughey está irreconhecível no papel de Ron. A mudança física é assustadora de início, mas logo você a esquece, tamanho o nível de atuação que ele dá. A dramaticidade e a entrega ao personagens são extremamente claras, principalmente nos momentos de surtos do personagem. Não há como negar a qualidade do ator, que só vem entregando papéis memoráveis, após um início de carreira em comédias românticas básicas.
Outro ator que rouba a cena (quando possível) é Jared Leto. Ele também se alterou severamente para o papel, ficando praticamente irreconhecível como a trans Rayon. Contudo, a sua entrega para a personagem pareceu mais física do que emocional, e o fato de a personagem estar em boa parte à sombra de Ron acabou eclipsando sua atuação, mas nos momentos em que está sozinho o ator faz por merecer as indicações e prêmios recebidos.
Enfim, não há muito o que falar de Clube de Compra Dallas. É uma história simples, contada de forma simples, mas impactante. Conhecer um pouco do passado da doença, além da luta dos aflitos por ela para conseguir medicações que realmente funcionem e viver um pouco mais, é extremamente interessante, e a clara mensagem serve para uma reflexão, afinal, todos querem viver, apenas isso, nem que seja apenas por mais um dia.