Guilherme Souza escreve todos os domingos sobre séries, filmes, livros, youtube, ou receitas de miojo. Ou seja, ele fala nada sobre tudo.
A dublagem brasileira é muito interessante. Tem uma história boa, sempre foi feita com certo cuidado, tanto que até alguns anos atrás as pessoas não se preocupavam tanto em ver filmes legendados.
Então, O QUE DIABOS ACONTECEU COM ELA?
É algo bem simples, na verdade. O motivo dela ter piorado é claro, mas antes nós precisamos entender um pouco de dublagem.
Dublar não é algo simples. Você tem que transmitir as mesmas emoções, entonações, sensações e atuações dos atores originais na sua voz. Dublar é interpretar. Você tem que ter uma qualidade como ator, tem que saber usar sua voz muito bem, fazê-la ser dramática quando necessária, ser engraçado quando preciso, falar nos tempos certos… É um trabalho para atores. E, durante muitos anos, o Brasil sempre soube escolher bem seus dubladores. Fora os atores de voz mesmo, muitas vezes tínhamos atores de novelas ou filmes brasileiros fazendo vozes de produções estrangeiras, principalmente animações. Isso dava qualidade e peso para a dublagem. Isso assemelha-se ao que fazem lá fora. Eles não contratam nomes para fazer as vozes nas animações. Eles contratam atores, eles dão liberdade para os atores. Estes, inclusive, realmente atuam enquanto fazem as vozes. Uma procura no youtube ou naqueles extras do seu blu-ray mostram os atores gritando ao microfone, se entregando, gesticulando como se estivessem no filme mesmo. E essa é a postura correta, afinal eles estão no filme.
E por que, afinal, a dublagem no Brasil tem ficado tão ruim ultimamente?
Como eu disse lá em cima, é simples. As produtoras passaram a contratar nomes e não atores.
Não se contrata mais alguém que realmente saiba dublar. Se contrata aquela pessoa de nome que vai trazer um público a mais para o filme, mesmo que esse perca qualidade. É nessas que temos nomes como Luciano Huck interpretando Flynn (Enrolados) de forma (muito abaixo do) medíocre, Mary Moon como Vanellope (Detona Ralph), sendo extremamente irritante e as coisas não melhoram daí. Um outro exemplo mais atual foi Fabio Porchat como Olaf em Frozen. Apesar de ser um ótimo comediante, ele não é ator e não chegou perto de fazer justiça ao trabalho original e inspirado de Josh Gad.
Eu sempre gostei de ver animações dubladas e não ligo de ver alguns filmes dublados na televisão, mas é difícil ter forças para entrar no cinema quando tratam a dublagem desse jeito. Em que momento esse jogo virou e nosso histórico de boas dublagens foi por água abaixo? Se você sair por aí perguntando para a maioria dos jovens, não duvido que eles prefiram legendado atualmente e fazem isso porque a qualidade da dublagem é ruim e não porque ela não tinha nomes fortes. É esperar demais que cheguem a conclusão de que o que importa para nós é a qualidade?
Felizmente, isso não tem se repetido em outras mídias. A dublagem de desenhos e animes, sempre boa, continua ótima (e vale lembrar que a dublagem de desenhos brasileiras tem história e muita criatividade, sendo melhor que a de muitas outras línguas) e até mesmo o mundo dos games tem ganhado boas adaptações e traduções. Um bom exemplo disso é o jogo Injustice, que traz os dubladores das séries animadas, deixando tudo mais amigável para nós.
Enfim, espero que um dia a dublagem brasileira volte a ser valorizada. E espero que a geração atual e a internet ajudem nisso, afinal, é fácil ver como valorizamos os dubladores. Em qualquer evento de animes, games, ou cultura pop, podemos ver dubladores sendo chamados e atraindo muitas pessoas. Eles inclusive tem começado a surgir em novelas brasileiras. Então por que insistir em chamar aquele apresentador de um programa do fim de semana para dublar algo? Tem tanta gente boa aí para ser valorizada. Vamos torcer para que isso um dia mude e a gente possa voltar a ver filmes e animações dublados nos cinemas com algum gosto.